O Caminho Português de Santiago em Loures na Idade Média
O Munícipio de Loures é atravessado por três Rotas de Santiago:
- A principal, também chamada Primaz ou Central, que começa na Igreja de Santiago (séc.XII) em Lisboa;
- A que se inicia na Igreja de São Tiago (séc.XIV) em Camarate e
- A que parte da Igreja de São Tiago Maior (séc.XII) em Santiago dos Velhos (esta última outrora pertencente à “península” do concelho de Loures mas que nos tempos atuais está sob a administração de Arruda dos Vinhos).
Desde a época medieval que os peregrinos transitavam pelas vias romanas passando obrigatoriamente por Loures na sua rota de peregrinação entre Lisboa e Santiago de Compostela. Quer vindos ao longo do Tejo, quer descendo a encosta da Serra da Luz, eles partiam sempre da Igreja de Santiago – Ecclesia Sanctus Jacobus de Ulixbona (séc.XII) em Lisboa com destino a Santa Maria de Loures onde se reuniam no adro da sua Igreja (culto Templário a partir do séc. XII).
Quando acabavam as chuvas e aquecia o tempo, a primeira opção escolhida era o percurso ao longo do Tejo “… a estrada seguia pela actual rua dos Remédios e pela rua do Paraíso, descendo para a rua de Santa Apolónia até alcançar a Calçada da Cruz da Pedra, onde se identificou uma necrópole. Depois, a estrada afastava-se do rio, que até então tinha acompanhado de perto, aproveitando o rebordo de uma plataforma natural que se prolonga de Alfama a Santa Apolónia, prosseguindo pela estrada de Chelas …” (Guardado: 48) daí seguiam por Sacavém, Camarate até alcançar Loures.
A outra opção nos tempos invernios “… do atual Largo da Madalena, em Lisboa, partia uma outra estrada em direção aos campos, o “deverticulum” entre “Olisipo” e “Ierabriga”, por Loures e São Julião do Tojal talvez na continuação do “decumanus”… a estrada desviava-se para nordeste, seguindo um percurso correspondente às atuais ruas do Poço do Borratém, da Mouraria, do Benformoso, dos Anjos, onde terá existido outra necrópole. Depois prosseguia pela rua de Arroios e calçada de Arroios em direcção a Alvalade e Lumiar.” (Guardado: 49), “(onde no século XVII ainda havia o Albergue do Espírito Santo, fundado por franciscanos), Odivelas (com o seu convento das Bernardas (séc. XIII), consagrado a S. Dinis e donde a Rainha Santa Isabel, pelo menos uma vez (1325), empreendeu a jornada do caminho jacobeo), Póvoa de Santo Adrião ou Santo Adrião da Póvoa de Loures (após passar a Quinta do Mariz (desparecida, que ficava onde hoje está o parque de estacionamento automóvel defronte à estação do metropolitano) e em cujo alto da Póvoa ainda sobrevive um silhar azulejado, mostrando S. Roque com trajes de peregrino santiaguista), Mealhada (com o seu conventinho de frades arrábidos, o 13º da Província Franciscana de Portugal) e finalmente Loures, daqui prosseguindo por Vialonga” (Adrião: 315).
Não é pois, por acaso, que o dia de Santa Maria de Loures (26 de Julho) se comemora no dia seguinte ao dia de Santiago Maior (25 de Julho).
Pela sua grande importância há fortes probabilidades que tenham passado por Loures, alguns peregrinos famosos que fizeram o Caminho de Santiago partindo de Lisboa com destino a Santiago da Galiza. Dentre eles destacam-se: Hieronymus Muenzer (1495); Edge Saulieu, na sua viagem de regresso (1533); Erich Lassota von Steblovo (1581); Fábio Biondo (1594); Cosme II de Médicis (1669) (http://purl.pt/12926/3/); Domenico Laffi (1691) e Nicola Albani (1745) entre outros.
O relato mais detalhado que chegou até aos nossos dias pertence a Giovanni Battista Confalonieri, secretário de D. Fábio Biondo, núncio apostólico em Lisboa (1594) que descreve “Na quarta-feira, 20 de Abril de 1594, saímos de Lisboa para a viagem a Santiago da Galiza. Passámos por Loures, Tojal, Vila (Via) Longa, Alverca, Alhandra, … Estes lugares são quase todos grandes, muito povoados, com boas igrejas; a jornada é sobretudo muito formosa e prazenteira, não só pela quantidade de casarios como também pela amenidade e fertilidade da comarca: não se atravessa um palmo que não esteja cultivado e cheio de oliveiras nas colinas, planícies e vales.” (tradução do castelhano Adrião: 245)
BIBLIOGRAFIA:
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SILVA, Carlos Guardado da, Lisboa Medieval – A organização e a estruturação do espaço urbano, Edições Colibri, Lisboa, 2008, 1ª Edição.
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FERNANDES, Paulo Almeida, Caminhos de Santiago, Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja, Lisboa, 2014, 1ª Edição.
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ADRIÃO, Vitor Manuel, Santiago de Compostela – Mistérios da Rota Portuguesa, Dinapress, Lisboa, 2011, 1ª Edição
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GIL, Carlos, RODRIGUES, João, Por Caminhos de Santiago – Itinerários Portugueses para Compostela, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1997, 2ª Edição.
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CONFALONIERI, Giovanni Battista, Memoria di alcune cose notabili occorse nel viaggio fatto da me Gio.Battista Confalonieri Sacerdote Romano da Romain Portogallo – Memorie dei viaggi di Mons. Confalonieri in Portogallo, in Spagna e in diverse parti d’Italia, Volume 11, Fundo Confalonieri do Arquivo Secreto do Vaticano, Vaticano, 1592 (tradução para castelhano por Sánches Cantón, Cuadernos de Estudios Galegos, Vigo, 1964).