IGREJA DE SANTIAGO DE LISBOA
Ecclesiæ Sanctus Jacobus de Ulixbona
LOCALIZAÇÃO
A Igreja Paroquial de Santiago situa-se na Rua de Santiago 1100-488 Lisboa, freguesia de Santa Maria Maior (antiga freguesia de Santiago entre 1160 e 2013), município e distrito de Lisboa, em Portugal (GPS 38°42’41,75”N ; 9°7’51,36”O). Localiza-se entre o Castelo de São Jorge e o Miradouro de Santa Luzia.
HISTÓRIA
A mais antiga referência conhecida à Igreja de Santiago é do ano 1160 (1) .
Aparece mencionada pela primeira vez num códice datado de 1247 (era cristã de 1209) como Ecclesiæ Sanctus Jacobus de Ulixbona (2) .
Entre 1211 e 1274 é referenciada no documento das Inquirições (3) onde se faz a menção dos bens do património real, das igrejas, dos mosteiros e das ordens militares.
A colação da freguesia de Santiago à Igreja foi só a partir do ano de 1299 quando aparece definida como Colacione Santi Iacobi (4).
Passou a paróquia a partir de 1337 quando era bispo de Lisboa D. João Afonso de Brito (?-1341)e o pároco da Igreja D. Gonçalo Martins.
Há fortes probabilidades de ter sido reedificada no reinado de D. Afonso IV, o Bravo (1291-1357), após o terramoto de Julho de 1344 (M-VII/VIII).
Segundo documentos de 1405 (5) foi Igreja do Padroado Régio e manteve-se com esse estatuto, duma forma continuada.
De acordo com registos do cartório, os filhos de Gil Vicente (1465-1536?) foram batizados nesta Igreja em finais do século XV. Embora não havendo documentação que o comprove, há quem afirme que em 1479, Cristóvão Colombo (1451-1506) se tenha casado em 1479, nesta Igreja, com Filipa Moniz Perestrelo (1455-1484) (6).
O sismo de 26 de Janeiro de 1531 (M-VIII/IX) deve ter afectado a Igreja de Santiago e conjuntamente com os restauros feitos durante o século XVI, desfiguraram-na irremediavelmente.
O terramoto de 1755 (M-IX), atingiu-a fortemente destruindo-lhe o teto, a fachada principal, o Altar-Mor e a parede mestra do lado do Evangelho. Salvou-se a Capela da Arcada também chamada de Nossa Senhora do Rosário, “a Franca” que se encontra do lado da Epístola e onde se continuou a celebrar o culto. Em 1762 as obras de reparação estavam terminadas.
Por portaria de 17 de Outubro de 1836, foi-lhe anexada a paróquia de São Martinho, com cerimónia eclesiástica realizada em 10 de Fevereiro de 1837, passando a ter a dupla invocação de São Tiago e de São Martinho.
Sabe-se que teve obras de conservação e de restauro no ano de 1838.
CARACTERIZAÇÃO ARQUITECTÓNICA
Exterior
Tem um portal em cantaria com frontão onde se encontram esculpidas as armas da Ordem de Santiago compostas por espada, bordão, cabaça e viera e sob estas a data MDCCLXXIII.
A encimá-lo encontra-se um janelão central flanqueado por duas janelas que dão para o coro, rematado por um perfil curvilíneo borrominiano com uma cruz de ferro sobre acrotério.
Na prumada direita da fachada eleva-se a Torre Sineira (séc.XVIII) coroada por um coruchéu.
Interior
Prevalece a feição maneirista, com planta traçada longitudinalmente numa nave única composta por Capela-Mor, altares no lado do Evangelho e capela barroca do lado da Epístola.
Na parte superior do arco da Capela-Mor, está a Cruz Espatária de Santiago pintada a vermelho.
No teto da nave estão pintados doze Medalhões (séc.XVIII) e ao centro a Assunção da Virgem aos pés da qual se encontra o Apóstolo São Tiago.
Em ambos os lados da entrada, existem Pias de Água Benta (séc.XVIII) e sobre o guarda-vento um coro alto onde se encontra um Órgão Móvel (séc.XVIII), obra de António Xavier Machado e Cerveira.
Lado do Evangelho
À entrada encontra-se a imagem de Nossa Senhora das Dores com Nosso Senhor dos Passos (séc.XVIII) e sobre ela um quadro representando Pentecostes-A Descida do Espírito Santo Sobre os Apóstolos (séc.XVIII). Ao lado está a imagem do Senhor Jesus dos Aflitos (séc.XVIII).
Na parede virada a norte existe uma capela e dois altares suportados por colunas e pilastras de madeira pintadas a branco imitando os da parede oposta. Ao centro está a Capela da Nossa Senhora das Candeias com o Menino (séc.XVIII) ladeada por São Miguel Arcanjo (séc.XVIII) e São Sebastião (séc.XVIII) e nos altares estão as imagens de Santa Luzia (séc.XVIII) e de Nossa Senhora de Fátima (séc.XX).
Lado da Epístola
À entrada encontra-se um quadro da Circuncisão do Menino (séc.XVIII).
Todo esse lado é dominado pela Capela da Arcada ou de Nossa Senhora do Rosário “a Franca” (séc.XVII) com acesso por três arcos envoltos por colunas e pilastras em jaspe branco.
Por baixo do arco esquerdo existe a Pia Baptismal (séc.XV) tendo gravada uma mitra sobre uma roda de navalhas correspondente às armas de D. Jorge da Costa (1406-1508), o cardeal Alpedrinha, confessor da rainha D. Leonor de Lencastre (1458-1525). Junto estão as imagem de Santo António (séc.XVIII) e a Nossa Senhora da Piedade-Pietá (séc.XVIII). Debaixo do arco central está o móvel Confessionário (séc.XVIII).
No interior em talha dourada está o Retábulo de Nossa Senhora do Rosário “a Franca” (séc.XVIII), protectora dos produtores de círios e velas que está ladeado pelas imagens de São Joaquim (séc.XVIII) e Santa Ana (séc.XVIII) e pelos Bustos Relicários de Santa Apolónia (séc.XVII) e de Santa Eufémia (séc.XVII). Na base está um camarim envidraçado com a imagem de Santa Filomena (séc.XVIII).
A parede está forrada por painéis de azulejo monocromáticos azuis representando os Mistérios da Vida de Nossa Senhora (séc.XVIII).
Sobre os arcos laterais existem quadros com a Apresentação do Menino no Templo (séc.XVIII) e a Adoração dos Reis Magos (séc.XVIII).
Altar-Mor
É forrado de madeira com envasamentos a estuque, a imitar mármore. Sobre o sacrário existe uma enorme imagem em madeira de Cristo Crucificado (séc.XVIII). Aos cantos estão os santos oragos São Tiago Maior (séc.XVII) e São Martinho (séc.XVIII) e aos lados existem nichos com o Sagrado Coração de Maria (séc.XX) e o Sagrado Coração de Jesus (séc.XX).
A ladear o arco da Capela-Mor estão os altares de Santa Águeda (séc.XVII) e de Santa Bárbara (séc.XVIII) e sobre elas os quadros de Santa Isabel, de São João (séc.XVIII) e da Sagrada Família (séc.XVIII).
PROTECÇÃO
A Igreja de Santiago foi classificada como imóvel de interesse público (anexo II) pelo Decreto nº 2/96, do Diário da República – I Série-B, Nº 56 de 06/03/1996 na página 450.
ORAGOS
São Tiago (Santiago) e de São Martinho
FESTAS ANUAIS
2 de Fevereiro (Nossa Senhora das Candeias)
25 de Julho (São Tiago Maior)
11 de Novembro (São Martinho)
13 de Dezembro (Santa Luzia)
NOTAS
É a única Igreja em Lisboa dedicada ao Apóstolo Santiago.
Em 2012, por iniciativa da LAIS (Liga de Amigos da Igreja de Santiago de Lisboa) que em 2014 passou por registo oficial a APAAS (Associação Portuguesa dos Amigos de Apóstolo Santiago), realizou-se a I Festa da Semana de Santiago, incluindo uma I Procissão em Honra do Apóstolo e que se manteve por dois anos seguidos.
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(1) Ruy Azevedo – Período de Formação Territorial in História da Expansão Portuguesa no Mundo, Vol. I, 1937, pp. 54.
(2) Rol de várias igrejas de que el-Rey é padroeiro nos bispados do Porto, Lamego, Tuy, Coimbra e Lisboa (Hæ sunt Ecclesiæ totuis Episcopatus Ulisbonensis, unde Dominus Rex est Patronus) – Gaveta 19, maço 14, nº 7 – Está transcrito no Livro das Gavetas, gaveta 19, maço 14 fl. 186 e seguintes (Arquivo Nacional da Torre do Tombo). http://iem.fcsh.unl.pt/investigar/projectos/proj-iem-fct/regnum-regis/iii_igrejas
(3) Gaveta 3, maço 1, nº 15 (Arquivo Nacional da Torre do Tombo).
(4) Livro de Próprios dos Reis e das Rainhas de Portugal, pp. 4.
(5) Mário Farelo – O Direito de Padroado na Lisboa Medieval. http://www.academia.edu/558412/_O_direito_de_padroado_na_Lisboa_medieval_Promontoria_ano_4_4_2006_p._267-289
(6) Fernando Pedrosa e Carlos Fontes – Cristóvão Colombo Português? e As provas do Colombo Português
BIBLIOGRAFIA E FONTES
- Andrade, F. (1948). A Freguesia de Santiago. Vol. I. 1ª edição, Publicações Culturais da Câmara Municipal de Lisboa. Lisboa.
- Castilho, J. (1970). Lisboa Antiga – Bairros Orientais. Vol. XI. 3ª edição, Imprensa Municipal de Lisboa. Lisboa.
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_Santiago_(Lisboa)